Diversas regiões do país, principalmente o Estado de Minas Gerais, apresentam relevo ondulado com extensas cadeias de pequenos morros e montanhas. As estradas, federais e estaduais construídas nestas regiões acompanham este relevo, algumas vezes contornando estas topografias acidentadas e outras passando no seu interior através de cortes no solo e até mesmo nas rochas de modo a atender as necessidades dos cálculos da engenharia. Apesar dos elevados custos para construção das rodovias nestas condições, pouco ou quase nada é feito na conservação do solo e das rochas que ficam expostas após a conclusão da obra. Atualmente é realizada a hidrossemeadura, técnica para revegetação de encostas e de baixo custo adotada pelas empreiteiras, mas de baixa eficiência. A técnica é utilizada sem a caracterização química e física do solo, pontos primordiais para o estabelecimento das plantas no local. Os adubos, corretivos e sementes são misturados em grandes tanques de caminhões que são aspergidos sob pressão. Não sabem que alguns adubos e corretivos não podem ser misturados e aplicados no mesmo momento pois reagem e os elemento minerais não ficam disponíveis para as plantas. Algumas encostas apresentam elevado grau de compactação do solo o que dificulta e até mesmo impede o crescimento das raízes da maioria das plantas que não conseguem se desenvolver eficientemente e morrem com o tempo. A recuperação das encostas, após a construção das estradas, apresentam importância secundária levando em conta os recursos que são destinados para esta atividade em relação ao montante contratado para a construção e manutenção das estradas. Para as empreiteiras responsáveis pelas obras, a prioridade está no asfalto e as suas obras agregadas como canaletas, drenos, compactação, ou seja, tudo que envolve piche, asfalto e concreto. A parte vegetativa de contenção das encostas é apenas um mero coadjuvante de uma obra maior. Mas, quem viaja de carro, ônibus ou caminhão percebe que não apenas os buracos nas estradas podem trazer grandes transtornos, mas também as barreiras. Muitas vezes, chuvas de baixa intensidade são o suficiente para bloquear parte ou totalmente uma estrada através da queda do solo da parte superior das encostas ou da parte inferior que carrega para o fundo dos vales não apenas solo, mas asfalto e alguns veículos também. Existem diversos tipos de solos, cada um com suas características de textura, estrutura, porosidade, nutrientes, densidade, tipo de material original, profundidade, etc. Solos como os Argissolos, Latossolos, Cambissolos e outros apresentam características bastante diferenciadas em relação aos riscos de erosão, fatores que não são considerados quando se fazem os cortes nas encostas durante a construção das estradas. Existem diferenças até entre as rochas. Algumas rochas são mais frágeis e sofrem muito com a ação do ambiente como chuva, temperaturas elevadas, ventos, etc. Estas rochas se fragmentam facilmente ocasionando quedas de grandes blocos nas pistas. Durante as chuvas, alguns barrancos são erodidos de forma gradativa liberando apenas as partículas minerais ou pequenos agregados. Este material desce pela encosta e se acumula na pista podendo causar acidentes graves pois o motorista pode perder o controle ao passar sobre este tipo de material que, em pista molhada, torna o trecho escorregadio. Isto acontece porque o solo não apresenta estrutura estável comum nos solos mais arenosos. Outros barrancos, devido à característica do solo, apresenta estrutura chamada de blocos ou prisma. Durante a erosão promovida pelas chuvas ocorrem quedas de grandes blocos de solo, semelhante aos blocos de rocha, podendo até mesmo interditar as pistas. Estes grandes blocos são firmes e estruturados pelas argilas. Outros solos, comum nas regiões serranas do país são rasos e chamados de Regossolos. Este tipo de solo apresenta um perfil que geralmente não passa de 1,5 metro com o surgimento da rocha logo em seguida. Nestes casos, mesmo a presença das matas e da cobertura vegetal pode não ser o suficiente pois não existe um sistema de continuidade com a rocha tornando o solo muito susceptível a erosão, principalmente quando está saturado de água, onde o seu peso aumenta significativamente. Nestes casos, técnicas mecânicas de contenção como a construção de gabiões e murros de contenção são necessários, pois apenas a vegetação não é capaz de conter o deslocamento do solo.
As técnicas e o manejo de recuperação de áreas agrícolas e encostas de morros que sofreram o desmatamento, na maioria dos casos não se enquadram na recuperação de cortes de morros realizados para construção de estradas devido ao processo diferenciado de degradação a que o solo é submetido. A inclinação mais acentuada expondo as camadas do perfil do solo, áreas expostas do solo menor, mas com diversidade maior de locais e outras variáveis que tornam necessária a criação de um sistema de manejo próprio para a recuperação do solo das estradas. A determinação de um sistema de manejo de contenção das encostas das estradas de Minas Gerais seria de grande importância, não apenas para o estado, mas também para o país. Durante o período das chuvas, as quedas de barreiras nas rodovias comprometem a economia de uma região, pois os caminhões ficam retidos na estrada ou são obrigados a passar por longos desvios. A demora e o aumento do percurso podem comprometer a qualidade da carga, principalmente de produtos muito perecíveis como as olerícolas, e aumentar os custos de transporte, tornando o produto mais caro para o consumidor. Os desmoronamentos de terra freqüentes neste período das chuvas comprometem também a segurança dos usuários da estrada, aumentando os riscos de acidentes. Os custos do Departamento de Estradas e Rodagens para recuperação destas vias expressas também são elevados pois freqüentemente torna-se necessário o deslocamento de máquinas e trabalhadores para a desobstrução e recuperação de trechos das rodovias que são destruídos pelos desmoronamentos, verbas que poderiam ser destinadas para outras frentes como a pavimentação de outras rodovias,melhorias na sinalização, etc.
Verificamos que, cada caso é um caso, ou seja, cada região, cada tipo de solo, deve ser avaliado individualmente para que se possa tomar as medidas corretas de contenção destas encostas.
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