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 ALTERAÇÃO QUÍMICA DO SOLO EM FUNÇÃO DA INCORPORAÇÃO DO MATERIAL ORGÂNICO PROVENIENTE DA ETE DA FÁBRICA DE LATICÍNIOS E DA CINZA DE CALDEIRA


Aretusa Martins Teixeira (1); Cácio Luiz Boechat(2); Antônio Pereira Drumond Neto(3); Sávio Luiz Boechat(4); Alexandre Sylvio Vieira da Costa(5) & Marcelo Barreto da Silva(6)
(1) Graduando do curso de Agronomia, Bolsista FAPEMIG, Depto. Solos, Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE), Rua Israel Pinheiro, 2000, Bairro Universitário, Governador Valadares, MG, CEP 35020-220, aretusamartinst@hotmail.com; (apresentador do trabalho);
(2) Graduando do curso de Agronomia, Bolsista FAPEMIG, Depto. Solos, Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE), Rua Israel Pinheiro, 2000, Bairro Universitário, Governador Valadares, MG, CEP 35020-220, clboechat@hotmail.com;
(3) Graduando do curso de Agronomia, Bolsista FAPEMIG, Depto. Solos, Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE), Rua Israel Pinheiro, 2000, Bairro Universitário, Governador Valadares, MG, CEP 35020-220, agrodrumond@hotmail.com;
(4) Graduado em Agronomia, savioagro@hotmail.com;
(5) Docente, Depto. Solos, Laboratório de Física e Química de Solos, Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE), Rua Israel Pinheiro, 2000, Bairro Universitário, Governador Valadares, MG, CEP 35020-220, asylvio@univale.br;
(6) Docente, Depto. de Fitopatologia, Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE), Rua Israel Pinheiro, 2000, Bairro Universitário, Governador Valadares, MG, CEP 35020-220, mbarreto@univale.br
Apoio: FAPEMIG, UNIVALE, Barbosa & Marques.


RESUMO: Um dos materiais orgânicos mais estudados é o biossólido das unidades de tratamento de esgoto, cujo uso na agricultura é uma forma benéfica de reciclá-os. Este estudo foi desenvolvido em casa de vegetação da Universidade Vale do Rio Doce, localizada no Campus II em Governador Valadares, MG. Os materiais utilizados foram o resíduo orgânico da fábrica de laticínios e cinzas de caldeira, incorporados no solo nas seguintes proporções: 2, 4, 6, 8, 10, 12 ton/ha além da testemunha, sem incorporação. Os solos incorporados foram acondicionados em copos plásticos com capacidade de 200 ml, umedecidos e mantidos na BOD durante seis dias. Após este período o solo foi preparado para a realização das análises químicas. Foram avaliadas as seguintes variáveis: pH, Potássio, Cálcio, saturação de bases, saturação de alumínio e acidez potencial. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com quatro repetições. Com os resultados obtidos verificou-se que a maior reatividade do material no solo ocorreu quando foi incorporado na forma de pó. Para que o agregado ou grânulo pudesse apresentar melhor resultado seria necessária a aplicação dos materiais em maior quantidade. Em relação a cinza, apesar da maior quantidade de elementos minerais em sua composição, a disponibilidade não foi processada de forma rápida e intensa nestes seis dias avaliados.
Palavras-chave: Resíduo Orgânico, Macronutrientes, Acidez.
INTRODUÇÃO
Regiões de clima tropical e subtropical apresentam predominância de solos muito intemperizados, com baixos conteúdos de matéria orgânica e nutrientes disponíveis (Brady, 1989). Nessas situações, o uso agrícola de resíduos orgânicos como lodo de esgoto pode ser vantajoso. Lodos de esgoto são resíduos semi-sólidos, predominantemente orgânicos, com teores variáveis de componentes inorgânicos, provenientes do tratamento de águas residuárias domiciliares ou industriais (Andrade, 1999). O uso agrícola desses resíduos tem sido recomendado por proporcionar benefícios agronômicos, como elevação do pH do solo (Silva et al., 2001), redução da acidez potencial (Berton et al., 1989) e aumento na disponibilidade de macronutrientes (Da Ros et al., 1993; Berton et al., 1997), além de representar um benefício de ordem social pela disposição final menos impactante do resíduo no ambiente. Com base no exposto, desenvolveu-se este trabalho para verificar o potencial do material orgânico e da cinza originários da indústria de laticínios incorporados no solo em diferentes granulometrias e quantidades na alteração de diversas características químicas do solo.
MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo foi desenvolvido em casa de vegetação da Universidade Vale do Rio Doce. O resíduo orgânico proveniente da fábrica de laticínios Barbosa e Marques localizada em Governador Valadares, foi coletado no filtro prensa onde é retirado o excesso de água. Este material é oriundo da estação de tratamento de resíduos líquidos localizado dentro do laticínio, onde após decomposição parcial em lagoa de aeração o material é conduzido para o filtro prensa. A “torta” coletada apresentava teor de umidade em torno de 85%. As cinzas de madeira foram coletadas próximas à caldeira da fábrica e apresentaram teor de umidade de 1,31%. Os materiais foram conduzidos a Universidade onde foram preparados para a experimentação.
As cinzas de madeira foram peneiradas, utilizando-se peneiras de 0,5 milímetro de malha para retirada do material grosseiro como pedaços de carvão, de madeira e grãos de areia. O resíduo orgânico foi mantido em bandejas à sombra para retirada natural do excesso de umidade. Após duas semanas de secagem o material apresentava teor de umidade em torno de 4,14%. Após a secagem, o resíduo orgânico foi moído em moinho de facas e separado em três diferentes granulometrias: pó, agregado (resíduo com diâmetro médio de 2,0 milímetros) e grânulo (resíduo com diâmetro médio de 6,0 milímetros). Foram retiradas amostras das cinzas e do resíduo orgânico e realizada a análise química dos principais componentes minerais.
O solo utilizado (Argissolo vermelho amarelo) foi coletado no horizonte B textural. O solo foi secado à sombra e peneirado em peneiras de 10 milímetros de malha. A análise granulométrica do solo apresentou os seguintes valores: areia grossa: 35,68%; areia fina: 15,69%; Silte: 7,02% e argila: 41,60%.
Os materiais foram incorporados no solo nas seguintes proporções: 2, 4, 6, 8, 10 e 12 ton/ha, além do tratamento testemunha, sem incorporação. Os solos incorporados foram acondicionados em copos plásticos com capacidade de 200 ml, umedecidos e mantidos na BOD durante seis dias. Após este período o solo foi coletado, secado a sombra, peneirado e preparado para a realização das análises químicas. Foram avaliadas as seguintes variáveis: pH, Potássio, Cálcio. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com quatro repetições.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O desempenho do pH dos solos submetidos aos diferentes materiais. O material orgânico na forma de pó alterou o pH do solo de forma intensa até a dose de 8,0 ton/ha onde o pH atingiu valores próximos a 8,0. A partir deste ponto, o acréscimo do resíduo orgânico praticamente não promoveu mais interferências nesta variável, até a dose máxima testada (12,0 ton/ha). A incorporação da cinza promoveu o desenvolvimento de uma curva semelhante a do tratamento com pó, mas de menor intensidade. A estabilidade da curva foi atingida com a incorporação de aproximadamente 9,0 ton/ha de cinza e o pH em torno de 7,4. Apesar do menor acréscimo quando comparado ao tratamento anterior, os valores atingiram uma elevação de praticamente 1 ponto de pH. No tratamento com os agregados (partículas orgânicas de tamanho intermediário), as menores quantidades praticamente não promoveram alterações no pH do solo até a dose de 4,0 ton/ha. A partir desta dose as respostas foram crescentes até atingirem pH máximo de 7,4 com a dose mais elevada (12,0 ton/ha). Em relação à utilização dos grânulos, praticamente não foram obtidas respostas de pH até a dose máxima testada. Estes resultados mostram que a reatividade do pH do solo depende da reatividade das partículas orgânicas e conseqüentemente da sua granulometria. As menores partículas reagem mais intensamente no solo promovendo rápidas alterações químicas. No caso das partículas maiores (grânulos) esta reação praticamente não aconteceu neste período em que o solo permaneceu incubado e nas quantidades que foram testadas.
Em relação à incorporação de potássio disponível e orgânico, verificamos que o uso dos resíduos na forma de pó novamente apresentou maior reatividade liberando o potássio em grandes quantidades à medida que o material orgânico incorporado no solo aumentava. Estes valores saltaram de 120 mg/dm3 no tratamento testemunha para mais de 300 mg/dm3 com a incorporação de 12,0 ton/ha. Neste caso, os tratamentos com agregados e grânulos praticamente apresentaram o mesmo comportamento com acréscimos na disponibilidade de potássio muito pequeno, atingindo valores próximos a 170 mg/dm3 com a incorporação de 12,0 ton/ha. No tratamento com incorporação de grânulos podemos observar novamente que as menores quantidades de material orgânico não promovem qualquer tipo de interferência na concentração de potássio do solo. Estas respostas começam a se intensificar a partir da aplicação de 8,0 ton/ha do material. O tratamento com cinza também não disponibilizou o potássio de sua composição imediatamente para o solo. O resultado pode ser observado no crescimento suave da curva de regressão. Neste caso, o valor máximo de potássio obtido foi de aproximadamente 170 mg/dm3 na aplicação de 12,0 ton/ha.
Na avaliação do nível de cálcio no solo verificamos novamente a liberação mais rápida deste elemento por parte do material orgânico na forma de pó, à medida que a quantidade do material orgânico no solo era aumentada. Ao final, na quantidade máxima testada (12,0 ton/ha), o nível de cálcio no solo havia aumentado em mais de 120%. Resultados positivos também foram observados com a incorporação de cinza no solo. A tendência da curva seguiu a mesma tendência da curva com incorporação de pó, apesar de apresentar intensidade pouco inferior. Apesar do acréscimo do nível de cálcio, podemos considerar esta elevação modesta considerando-se que a cinza possui uma quantidade de cálcio 2,5 vezes superior ao resíduo orgânico. Nos tratamentos com agregados e grânulos, os acréscimos foram pouco significativos, cerca de 20% no nível de cálcio do solo com a aplicação de 12,0 ton/ha dos resíduos orgânicos.
CONCLUSÕES
Com os resultados obtidos neste ensaio podemos verificar que a maior reatividade do material orgânico no solo ocorreu quando foi incorporado na forma de pó. Para que o agregado ou grânulo pudesse apresentar melhor resultado seria necessária a aplicação dos materiais em maior quantidade. Em relação a cinza, apesar da maior quantidade de elementos minerais em sua composição, a disponibilidade também não foi processada de forma rápida e intensa nestes seis dias iniciais avaliados.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, C. A. Nitratos e metais pesados no solo e em plantas de Eucalyptus grandis após aplicação de biossólido da ETE de Barueri. 1999. 65 f. Dissertação (Mestrado em Solos e Nutrição de Plantas) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba, 1999.
BRADY, N. C. Natureza e propriedades do solo. 7. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1989. 878 p.
BERTON, R. S.; CAMARGO, O. A.; VALADARES, J. M. A. S. Absorção de nutrientes pelo milho em resposta à adição de lodo de esgoto a cinco solos paulistas. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v. 13, p. 187-192, 1989.
BERTON, R. S.; VALADARES, J. M. A. S.; CAMARGO, O. A.; BATAGLIA, O. C. Peletização do lodo de esgoto e adição de CaCO3 na produção de matéria seca e absorção de Zn, Cu e Ni pelo milho em três latossolos. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v. 21, p. 685-691, 1997.
DA ROS, C. O.; AITA, C.; CERETTA, C. A.; FRIES, M. R. Lodo de esgoto: efeito imediato no milheto e residual na associação aveia-ervilhaca. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v. 17, p. 257-261, 1993.
SILVA, F. C.; BOARETTO, A. E.; BERTON, R. S.; ZOTELLIH.B.; PEXE, C. A.; BERNARDES, E. M. Efeito do lodo de esgoto na fertilidade de um Argissolo Vermelho-Amarelo cultivado com cana-de-açúcar. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 36, n. 5, p. 831-840, maio 2001.

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